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Tubarões - vilões ou vítimas?


Quando você pensa em tubarão qual é a primeira coisa que vem à sua mente? Provavelmente a imagem de um animal feroz, com sangue na boca e a clássica música de Jaws não é mesmo?

Embora a maioria das pessoas nunca encontre um tubarão na vida, só o pensamento de estar na água com esse animal suscita medo. Mas esse medo é justificado ou irracional? Qual é a base do medo que temos dos tubarões? Nosso medo é instintivo ou ensinado?

Se nós mostrarmos a origem da palavra "shark" (tubarão em inglês) descobriremos que ela não é conhecida com precisão. O uso comum pode ter surgido no ano de 1560 em Londres e a tradução seria: “pessoa desonesta que se projeta sobre outros”. Outras variações germânicas da palavra incluem "schurke" com o significado de "vilão ou canalha". Embora a verdadeira origem da palavra não seja clara, o que sabemos é que as primeiras referências aos tubarões não eram positivas. Ao longo da história os tubarões foram demonizados como monstros alucinados que seguem as embarcações no mar e provocam vítimas infelizes.

Apesar disso, a cultura havaiana tradicionalmente reverência esses animais como seres sagrados. Eles veem os tubarões como embarcações que abrigam o Deus da família ou ancestrais endeusados chamados "Aumakuas". E até hoje, as famílias no Havaí acreditam profundamente em seus Aumakuas e são porta-vozes sobre a proteção de tubarões perto de sua costa.

Nos últimos anos, a imagem negativa dos tubarões foi perpetuada, exagerada e projetada para nos assustar por causa do entretenimento. O filme de 1975, “Jaws” (Tubarão), foi um sucesso de bilheteria e criou uma geração aversa ao tubarão e com o mantra de que "o único tubarão bom é o tubarão morto". As pessoas matavam tubarões como troféus e eram aplaudidas por grandes multidões. “Jaws” abriu o caminho para inúmeros outros filmes do mesmo gênero, que embora sejam feitos para entretenimento e comédia nos fazem questionar: qual o custo deles? As imagens de tubarões como assassinos imparáveis ressoam e perpetuam esse mito, porém, é hora de valorizar a verdade e parar com a distorção generalizada sobre estes animais.

Para isso, vamos entender a importância deles no ecossistema.

Os tubarões estão no topo da teia alimentar e desempenham um papel importante na manutenção de um ecossistema saudável. Eles mantêm outras populações sob controle e, quando são removidos, podem quebrar o equilíbrio daquele ambiente. Os biólogos chamam esse fenômeno de "efeito em cascata", que é o que acontece quando uma cadeia imprevista de eventos se desenrola com a remoção ou introdução de uma espécie. No caso dos tubarões, ocorre o chamado efeito “top-down” (de cima para baixo), visto que são predadores de topo de cadeia.

Esses animais vivem associados a locais com uma boa quantidade de recursos - como recifes de coral -, alimentando-se de peixes, tartarugas e até alguns mamíferos marinhos (como focas!). Contudo, independente da região, caso sejam retirados completamente do ambiente, a população consumida por eles cresce exponencialmente, diminuindo a quantidade de algas e outros seres fotossintetizantes! Quem sofre com isso? De imediato, os corais perdem a cobertura de algas e nutrientes - e morrem! - e, seguidamente, nós! Afinal de contas, uma vez que as algas acabam… os peixes morrem de fome ou buscam outro lugar pra viver.

Tubarões indicam um mar saudável. Ao longo do últimos 400 milhões de anos, as mais de 500 espécies adaptaram suas características se tornando cada vez mais especializados… e resistentes! Afinal de contas, o corpo desses animais é todo coberto por escamas “placóides”, funcionando como ‘placas’ que os tornam mais leves, velozes e ágeis - e difíceis de atingir. Isso sem contar com seu sistema imunológico que é sem igual. Ou seja, para um tubarão não existir naquele ambiente… significa que aquele lugar está realmente em maus lençóis.

"Escamas placóides""

Ainda assim, muitos pensam que o mar seria um lugar mais seguro sem tubarões. Isso se deve às principais características de predador que nós, mamíferos terrestres, tememos enormemente. Esse medo “irracional” se deve ao fato de que nós, Homo sapiens sapiens, não fomos feitos para viver no ambiente aquático. Ao longo da nossa história, nós criamos uma relação com o mar: pescamos, mergulhamos, velejamos… dependemos desse ecossistema - mas não fomos adaptados para viver nadando dentro dele o tempo todo. Por isso, nós tememos tudo o que pertence ao mar, desde tubarões, até baleias enormes e - o mais comum - mares profundos e escuros (a famosa Talassofobia).

Assim como nós estranhamos… os tubarões também estranham! A maior parte dos acidentes envolvendo banhistas e surfistas se deve às mordidas exploratórias por parte do animal. Esses bichos possuem um ótimo sistema de detecção de movimento - a linha lateral - e de ondas eletromagnéticas - as ampolas de Lorenzini. Ambos funcionam de forma muito parecida: pequenos furinhos que, dentro da pele, são pequenos tubos que levam a informação para o cérebro do bicho. Sendo a linha lateral, esses tubos são preenchidos por um gel que capta o movimento da água quando um peixe passa pelo tubarão; sendo a ampola, o gel recebe os elétrons emitidos pelo peixe! Só que vale lembrar que esses animais olham para banhistas e surfitas de baixo para cima, contra a claridade, então tudo o que eles enxergam é uma sombra escura com membros que parecem nadadeiras… claramente uma foca! O comportamento de morder é para verificar a possível presa - e eles soltam logo em seguida.

1. Audição 2. Olfato 3. Visão 4. Eletrorrecepção

Existem diversas outras coisas que matam muito mais do que tubarões, como máquinas de refrigerante, acidentes de carro, avião, acidentes com hipopótamos, ataques de cachorros, acidentes com raios… a lista não para! Contudo, propagado por aqueles filmes culturais que, hoje em dia, regem o pensamento comum da sociedade… o jornalismo costuma noticiar esses eventos (que são bem raros) como ataques, exaltando um comportamento “agressivo gratuito” dos animais. Na verdade, eles nem gostam da nossa carne! - nós somos muito magros e doces - e nem são atraídos por sangue humano devido à sua composição química!

E os mergulhadores? O fato é que tubarões normalmente ignoram os humanos. Veja, eles percebem nosso campo eletromagnético a uma certa distância, então eles sabem que nós estamos na praia muito antes da gente sequer imaginar que existe um tubarão ali (e acredite, existem muitos tubarões nas praias do Brasil). Só que esses animais têm comportamentos diferentes entre as espécies! Algumas são mais agressivas, outras mais calmas e desconfiadas… mas nenhuma gosta de ter o espaço pessoal invadido, que toquem na comida ou cheguem perto dos filhotes! Muitos dos acidentes, que são muito raros, envolvendo esses animais se devem ao fato de que os mergulhadores não terem o conhecimento sobre tubarões e cometeram um desses três erros.

Hoje em dia, os tubarões estão sendo pescados a taxas insustentáveis e por se reproduzirem lentamente, tendo poucos filhotes por vez, eles não conseguem manter seu número de indivíduos no ritmo atual da pesca e da caça. Os cientistas estimam que cerca de 40 a 65 milhões de tubarões são mortos todos os anos por causa das suas barbatanas: ingrediente principal da sopa de barbatana, iguaria cultural chinesa extremamente valiosa - um quilo de cartilagem da nadadeira equivale a 80 dólares! A prática do “shark finning” é economicamente vantajosa, mas extremamente cruel: os animais são capturados e os pescadores cortam suas barbatanas, jogando os animais ainda vivos no mar. Infelizmente, tubarões precisam nadar contra a corrente marinha para que a água entre pela boca e oxigene as brânquias, afinal de contas, as narinas servem apenas para o olfato. Dessa forma, seus corpos ficam no fundo do mar, morrendo asfixiados lentamente. O Brasil é um dos maiortes consumidores de carne de cação que, no caso, é um tipo de tubarão - e não seus filhotes.

Uma das soluções que alguns países vêm encontrando é mostrar o valor que o turismo com tubarão tem. Por exemplo, Palau, um país insular do Oceano Pacífico, declarou as águas que cercam seu país como um santuário de tubarões em 2009, proibindo qualquer captura comercial de tubarões para retirada das barbatanas ou obtenção da carne. Isso resultou em uma explosão de turismo e atualmente em Palau, cada tubarão vivo vale 1 milhão de dólares em receitas com o turismo - muito mais vantajoso do que os somente 80 dólares por quilo. Pela primeira vez, as pessoas estão vendo que o valor de um tubarão vivo supera muito o de um tubarão morto. Os santuários estão sendo criados globalmente e as atitudes sobre os tubarões estão mudando, mas ainda é necessário muito mais.

No Brasil, todos conhecem os casos envolvendo as praias de Pernambuco! A criação do Porto de Suape, no sul do Recife, foi um marco para os tubarões da região: lá eles depositavam ovos e criavam os filhotes. Com o porto, em 1990, os animais perderam local e passaram a seguir as embarcações encontrando novas praias em Pernambuco, onde havia um grande despejo de sangue e resto de pesca de camarão. O fundo do mar de lá contribuiu para a tática de predação (ficam bem ao fundo, e sobem rápido) e claro que os animais resolveram continuar na região favorável.

As praias da região são repletas de placas com avisos e informações sobre os tubarões, impedindo a entrada da população em determinadas épocas - ou constantemente. Contudo, muitos não respeitam os alertas e entram na água mesmo assim. Fora a situação do Nordeste, curiosamente as outras praias do Brasil também têm seus tubarões! Aqui no Rio de Janeiro, vemos muitos tubarões-martelo, galha-preta, cação frango, cação anjo… São várias espécies que vivem em águas cariocas e muitos nem fazem ideia! Quantos incidentes com tubarões acontecem no grande verão em Copacabana?

Conheça seus tubarões:

Os tubarões fazem parte de um grupo muito diversificado. Existem 8 ordens que contêm 512 espécies, e novas espécies são descobertas e descritas pelos cientistas quase todos os meses. Entre as muitas espécies de tubarões, existe um notável e merece ter um registro dele nos livros de recordes: o Carcharodon megalodon, maior tubarão já registrado, que podia chegar até 18 metros e viveu até quase 2 milhões de anos atrás.

Eles fazem parte da classe Chondrichthyes (caracterizados por possuírem esqueleto cartilaginoso) e dentro da subclasse Elasmobranchia: aqueles que têm 5 fendas branquiais (ou até 7, se forem Hexanchiformes). Você pode se surpreender ao saber que os tubarões são peixes com mandíbulas que estão intimamente relacionados com as arraias! A diferença é que os tubarões têm fendas laterais e arraias possuem fendas branquiais ventrais - e pode parecer muito óbvia a diferença corporal, mas quem aí não confundiu, de vez em quando, um cação anjo com uma arraia?

Os tubarões podem ser mais ou menos caracterizados em três grupos com base em seus movimentos:

  • Espécies locais que apresentam fidelidade ao local, ou movimentos de curto alcance ao longo da vida. Incluem tubarões pequenos e bentônicos como wobbegongs, tubarões-enfermeiros (lambarus) e tubarões-gato.

  • Espécies costeiras, como os tubarões-negros, tubarões galhudos e os galhas pretas, permanecem nas plataformas continentais, mas migram sazonalmente até 1.600 km ou mais.

  • Espécies pelágicas, como tubarões-mako, galhas brancas oceânicos, tubarões-martelo, tubarões azuis e tubarões brancos. Estes tubarões podem atravessar bacias oceânicas inteiras enquanto passam a vida no mar aberto.

Se você quer saber mais sobre as espécies de tubarões no RJ vejam o “Guia de Identificação de Espécies de Tubarões no Rio de Janeiro (Ulisses Gomes, Camila Signori e Otto Gadig)”

1. Tubarão de Arrecife 2. Tubarão Mangona 3. Tubarão Mako 4. Tubarão lixa ou Lambaru 5. Tubarão Cabeça-Chata 6. Galha Branco Oceânico 7. Tubarão Azul 8. Tubarão Tigre 9. Grande Tubarão Branco 10. Tubarão Martelo 11. Tubarão-baleia 12. Tubarão Leopardo


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