A ação humana tem modificado profundamente nosso planeta. Somos tão numerosos (cerca de sete bilhões, com uma taxa de crescimento de 2% ao ano), que a nossa população influencia tudo na natureza. Nossa pegada ecológica é tão profunda que a Era geológica atual está sendo chamada de Antropoceno, em uma referência direta à nossa eliminação de carbono na atmosfera e a modificação dos habitats. A ação humana abrange e transforma toda a superfície da Terra, alterando até mesmo processos ecológicos e auto-regulatórios, tanto em terra, quanto no mar. A Terra está mudando mais rápido do que nunca! Alguns consideram esta Era como o sétimo evento de mega-extinção na história da Terra, mas isso não precisa continuar. Afinal, está em nossas mãos.
No ambiente terrestre transformamos 35% da superfície do planeta em plantações, consumindo ou desperdiçando cerca de 1/4 de todos os compostos orgânicos produzidos nos ambientes terrestres (Produção Primária Bruta). Os habitats remanescentes são devastados num ritmo de 17 milhões de hectares por ano (2% da cobertura original). Anualmente consumimos 25% mais do que o planeta pode produzir sustentavelmente e a tendência é que este consumo aumente. Considerando a tendência ao crescimento da classe média, sobretudo em países como Índia, China e Brasil (entre os mais populosos do mundo) necessitaríamos de ao menos três planetas como este para suportar um nível de consumo semelhante ao dos países desenvolvidos, em escala global.
Mesmo a aparente imensidão dos oceanos não nos impediu de afetar mais de 96% de toda sua superfície com algum tipo de impacto. Atualmente não existe área na superfície dos oceanos que não tenha sido afetada pela pesca, poluição, modificação e destruição de habitats, tráfego marinho, ou mudanças climáticas, isso só para citar algumas das fontes de impactos mais comuns. Cerca de 80% de todos os estoques pesqueiros do globo estão sendo pescados além do que podem produzir, ou em vias disso. A óbvia redução na oferta de pescado em nossas mesas vem acompanhada de mais um fator. A maioria das espécies alvo da pesca são predadores do topo da cadeia alimentar, cuja função é controlar a abundância dos organismos diretamente abaixo deles para que o ecossistema continue funcionando. Ao removê-los, alteramos todo o ecossistema, refletindo até mesmo no nível de nutrientes disponíveis para o plâncton na água. Estamos comendo as peças mais importantes do maquinário de nosso planeta.
O futuro catastrófico que estamos caprichosamente desenhando não está muito distante. Basta que não façamos nada e deixemos o mundo ir como está. Com o atual ritmo de crescimento da população humana, em 2050 seremos nove bilhões de “bocas”. Mantendo-se a atual taxa de eliminação de CO2 na atmosfera, em 2050 atingiremos um nível tão alto que a temperatura da Terra aumentará no mínimo 2°C, com todas aquelas famosas conseqüências geradas pelo aquecimento global. Caso não busquemos outros métodos de gerenciamento dos recursos pesqueiros, em 2050 todos os estoques pesqueiros do mundo estarão em colapso. Com cada vez mais pessoas e menos recursos, o futuro próximo da humanidade não será muito agradável, a não ser que algo seja feito.
Numa época de grandes mudanças e impactos globais, as pequenas atitudes podem ser o começo. O consumo consciente é a primeira delas. Reflita antes de consumir. Isso serve para tudo, desde a comida da sua mesa, que pode estar ameaçando a estabilidade de todo um ecossistema, até o uso de energia elétrica, que provavelmente veio de uma usina hidrelétrica construída sobre uma floresta nativa, onde centenas de espécies desconhecidas da ciência foram cobertas por água. Lembre-se, a nós somos a humanidade e a mudança pode começar hoje, basta você querer.
Imagem: Ramon Noguchi